quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

vida de cachorro.


O Toshi veio parar aqui em casa como mais ou menos um ano de vida quando uma amiga da minha mãe ia deixá-lo na rua porque o filho dessa sofria de processos alérgicos por conta do pêlo do animal. Daí minha mãe o adotou, a contragosto de todos nós, que já tínhamos uma cadela (Brieta) e que já dava muito trabalho.
Ele não chegou com esse nome, claro. E até nós arranjarmos um outro nome pra ele, ele não sossegou. Rasgou o sofá duas vezes, quebrou todas as plantas da minha mãe, enxeu a casa com os ossos que ele pegava na rua, além de, claro, fazer xixi ou cocô onde bem quisesse. Não desistimos. Daí veio o nome e com ele, um ensaio de obediênciar. Passou a  acompanhar meu pai todas as manhãs até a padaria, me acordar no quarto arranhando a porta, não deixar ninguém chegar perto da cama da minha irmã. Ele tinha um jeito peculiar de deitar, não deitava com as patas flexionadas e encolhidas para se proteger do frio, ficava refestelado, patas estiradas e com os órgãos sexuais refrescando na cerâmica fria, como comentava meu pai. Tinha um pelão que lembrava rastafari, bem marrom na raiz, mais claro nas pontas. Olhos verdes/amarelados que quase não se via por conta do pelo, e um fucinho bem marrom. Era longilíneo, tipo um cruzamento de  bassé com poddle. Diferente da Brieta, que é menor e mais gordinha. O relacionamento dos dois foi difícil no começo, disputavam o espaço a latidos e mordidas, até que um dos dois saia chorando e nós íamos sempre consolar um, recriminar o outro. Toshi era cão de rua, manso, rápido, auto-suficiente. Brieta era ríspida, de poucos amigos, criada em casa, com tudo nas patas, ao alcance do focinho. Comprovando a lei da física, os opostos se atraíram e Toshi e Brieta tiveram quatro filhotes. Pra eu sair de casa  pro trabalho, Toshi não podia estar na rua que me seguia até o emprego. Me fazia muita raiva quando eu, morrendo de sono, saia pro trabalho e ele tava no portão pronto pra ir comigo. E eu, tendo que correr atrás de cachorro pra colocar dentro de casa. Fora outras vezes que eu não o via na rua e ia trabalhar, e do nada tava ele tá, todo estirado, esperando que eu voltasse pra casa. Toshi era uma cara legal, como dizia meu pai. Quase não latia, manso e amável. Era conhecido na vizinhança, todo mundo ria do jeito dele deitado, tinha uma mania feia de entrar em outras casas e levar sapatos de quem fosse, ou entrar na padaria aqui vizinha e roubar alguma coisa de lá. Malandro. Do jeito que veio rápido e sem que nós esperássemos, Toshi foi embora. Fomos surpreendidos essa manhã como o corpo do animal cercado de vômito, dentro do meu quarto. Suspeitamos de envenenamento, pela cor amarela viva do vômito que encardiu até o piso. Todo mundo ficou inconsolável. Minha irmã chorou a manhã toda junto com a minha mãe, meu pai abalado no telefone, eu igualmente, a viúva não deu um latido durante todo o dia. Enfim, o acordar amanhã não vai ser o mesmo. Toshi e Brieta cruzaram pela ultima vez essa semana...Será? Seria lindo!